Painel Eixo 2 – Apropriação tecnológica

Falas iniciais de provocação do debate

Chen Yang – Fórum Social China-Europa, Radio França Internacional – China

Dividiria a maioria dos meios na China em veiculos que dependem do Estado e os que dependem muito do mercado. Nessa fase final do autoritarismo, temos uma concientizacao aguda da liberdade. Os jornalistas procuram denunciar a corrupção e as políticas do partido. É uma situação que já dura cerca de dez anos. Apesar da luta pela liberdade de jornalistas, até recentemente eles se sentiam isolados nesse enfrentamento. Recentemente, há cerca de dois, três anos, ocorreu uma mudança fundamental: o aparecimento de sites como o Twitter chinês.

Hoje na China já há 500 milhões de usuários de internet. Os mais ativos são de 200 a 300 milhões. O Twitter chinês já tem 100 milhões de usuários. O governo não consegue mais controlar as informações. A imprensa agora está sendo fortalecida pela luta pela liberdade. Estou muito otimista em relação a isso.

Mas a grande dificuldade da liberdade de imprensa na China é a institucionalização desse conceito. Nem a imprensa nem os que usam a internet tem garantias institucionais e, muitas vezes, ainda correm perigo. O Estado e a polícia podem prender quando quiser os ativistas e os jornalistas.

Estamos num momento decisivo, que pode trazer grandes mudanças. Este governo repressivo está passando por vários problemas e todos estão esperando uma mudança política. É dificil saber se o governo vai reprimir mais ou mudar de tática.

 

Valérie-Eve Moreau – ViaPlaNetVox, rede de hipermídia livre dedicada à expressão de solidariedade – França

Na França, nos demos conta que, em nivel das políticas de comunicação, havia uma vontade do Estado de censurar a internet, para que o que aconteceu na Primavera Árabe não se repita em outros países. A tentativa era amordaçar a internet. As plataformas proprietárias não garantem a liberdade de expressão e nem o anonimato.

Outra constatação é que existe uma autocensura dos jornalistas em relação aos assuntos que podem incomodar o governo ou seu plano de carreira pessoal.

A terceira constatação é que hoje uma multidão de iniciativas que anunciam mudanças de paradigmas estão, infelizmente, muito isoladas. Nosso desafio é interligar uma às outras.

Em setembro de 2011, lançamos, em conjunto com a Unesco, em âmbito global, um chamado para a construção do que chamamos de uma obra universal – ou bem comum imaterial – de uma rede de hipermídia. A ideia não é fazer mais um portal tipo o Wikipedia, mas trabalhar efetivamente em uma cooperação global em uma rede livre, aberta e descentralizada. O coração tecnológico será composto por dados e protocolos de intercâmbio que inteliguem diferentes iniciativas que existem no mundo.

 

João Caribé – Mega Não – Brasil

O movimento Mega Não conseguiu barrar, durante dois anos, no Congresso brasileira, um projeto de lei do então senador Eduardo Azeredo, que pretendir impor restrições à liberdade na internet. Em consequência, foi desenhado um projeto de Marco Civil na internet. Havia um consenso de que um projeto civil deveria ser apresentado antes de um criminal. No entanto, com a recente divulgação do roubo de fotos do computador de uma atriz brasileira (Carolina Dieckman), voltou a tramitar rapidamente no Congresso um projeto que criminaliza algumas práticas na internet.

Existem quatro arenas desse debate: a) legal; b) comportamental (temos a cultura de nos enfiar em “jardins murados”, como o Facebook, quando a conexão deveria ser essencialmente peer-to-peer, para ser impossível de controlar); c) técnica (bloqueios de IPs, resposta de DNS, etc); e d) da governança da rede. Em fevereiro teve início uma reunião da UIT, órgão da ONU que trata das telecomunicações, para atualizar este debate internacionalmente.

A internet tem duas camadas bens distintas: infraestrutra e de valor adicionado. As empresas de telecomunicações deveriam apenas prover uma freeway. Mas não é isso o que ocorre. E a única questão que mexe com essas empresas é o interesse econômico.

Há três “dogmas” para essas empresas: proteção das crianças, infraestrura e segurança. Há uma movimentação intensional dessas empresas para dar a entender que elas estão prestando serviço de valor adicionado, que não é da alçada delas.

Sobre infraestrutura, não acredito em colapso nas redes. Hoje eu conecto um modem de 50 MB na mesma mídia que transmitia velocidades muito menores em anos anteiorres. Devemos tratar esses caras que querem censurar a internet como vovôs com Alzheimer. Para uma parcela da sociedade, eles estão sendo patéticos. Ou a gente os ignora ou mostremos a eles o quanto são idiotas.

 

Erica Campelo – RITIMO – França

A RITIMO é uma rede francesa formada por 90 associações, que entende a informação como bem comum e tem a produção colaborativa como foco. Desde os anos 70 trabalhamos em diversos setores da França que criaram centros de informação e documentação, tendo como base o direito de informar e de ser informado. Com a chegada da internet, temos uma batalha a ganhar. Qual a resposta que se tem no Google quando se digita desenvolvimento sustentável?

Em 2010, criamos um projeto para formar e capacitar militantes a produzirem informação e conhecerem o mundo da internet, como se cria um site, um blog, como divulgar sua informação. Para isso, trabalhamos com software livre e Creative Commons. Durante o primeiro ano do projeto, fizemos formações de base e construímos o acesso ao software, para que as associações entendessem o processo de funcionamento das ferramentas. Hoje estamos no último ano do projeto, financiado pelo poder público francês, trabalhando com mais de 50 associações. Trabalhamos com programadores para fazer com que as associações continuem após o final do projeto.

Outro projeto desenvolvido pela RITMO desde 2009 em nível internacional, em parceria com uma fundação suíça, é uma rede de sites de informação chamada Coreden. Todos os movimentos tem um site de informaçao. Desenvolvemos então um site de buscas que analisa todos os sites que querem compartilhar informações conosco.

 

Debate no plenário

 

Marco Amarelo – Ciranda Internacional da Comunicação Compartilhada – Brasil

Existe um processo de privatização da internet. Muitas vezes essa privatização vem sob o pretexto de garantir a segurança dos usuários – e daí vem o controle. Nossa proposta deve ter o enfrentamento econômico, mas também cultural, como foco. Fazer as pessoas entenderem o que é a rede, que ela pode ser transformada por quem está usando o meio.

 

Pierre George – Cáritas – França

Estamos falando de apropriação de quem? Qual é o papel dos atores que estáo no FMML? Tem muitas oportunidades em fóruns locais para experimentar e favorecer a apropriação tecnológica coletiva.

 

Henrique – Brasil

O que distingue a comunicação na internet é que a informação não vale nada. O que vale é o processo vivo. A tecnologia é sempre ambígua: ou você se submete a ela ou você se apropria dela. A comunicação viva é a conversa; começar a encontrar saídas. O segredo da internet é torrents, anonimato. É terrível porque quem é de comunicação quer encher a cabeça das pessoas com alguma coisa, não quer conversar.

É de liberdade que estamos falando. As empresas querem uma política de canil, de adestrar animais. Temos que radicalizar a distribuição e construir lutas. Na hora da luta, não pode haver preconceito. Vamos privilegiar o que temos em comum. É o coletivo que vai guiar essa conversação. Os nomes são descartáveis.

 

Suriam

O conceito de mídias livres pode dar uma visão mais ampliada e pensar outras lutas, como a soberania alimentar. Pensar alianças com movimentos.

É importante pensar em documentar os processos ao trabalhar com apropriação tecnológica em grupos sociais. Muitas vezes não fazemos isso e não trocamos informação.

 

Paula Andrade – SOS Corpo – Brasil

Tem sido muito difícil desenvolver projetos de formação para a apropriação tecnológica e garantir a continuidade desses projetos. As mulheres com quem trabalhamos, por exemplo, teriam dificuldade para se encaixar em um edital. E depos disso, como fariam para continuar?

Precisamos fazer a interface desse debate tecnológico com o capitalismo, trabalhar processos emancipatórios.

 

Encaminhamentos e propostas

 

Destacar a importância de redes de emancipação ativista e refletir sobre os aplicativos hegemônicos, como Facebook e Twitter. Eles são geladeiras que não podem ser modificadas pelos usuários.

Esses grandes centros hegemônicos tem muito dinheiro para aplicar em tecnologia. Como vamos nos articular para vencer essas barreiras? As universidades são um bom caminho. Pensar alianças com movimentos sociais.

Documentar os processos ao trabalhar com apropriação tecnológica em grupos sociais.

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